quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA: FERNANDA MONTENEGRO


Fernanda Montenegro (nome artístico de Arlette Pinheiro Esteves Torres, Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1929)
"O ator é o demônio que dá passagem a outra entidade esquizofrênica dentro dele".

O que mudou no ofício de ator desde que a sra. começou no radioteatro (em meados dos anos 40)?

Fernanda - Sou do tempo do ensaiador português, cujo primeiro conselho é: o ator tem de começar aprendendo a ouvir o ponto [o auxiliar de cena que, escondido do público, lembra aos atores suas falas]. Nos ensinaram a ler textos do ponto de vista social, existencial. Somos essa geração que tem por volta de 80 anos. Os encenadores que foram assistentes estão passando adiante o que eles trouxeram. É claro que, a partir de uma hora, com a contracultura e o domínio de uma segunda geração, aquela disciplina de corpo de balé, de companhias ensaiando 12 horas por dia, repetindo até morrer foi perdendo força. Havia grupos falando de si mesmos, uma criatividade mais comunal, um jogo menos acadêmico. E aí começou a haver uma mescla de experiências.
Hoje, por causa do processo econômico do teatro, temos o teatro que se pode fazer. Alguns grupos corajosamente são grandes, mas vão buscar seus recursos de sobrevivência em outros trabalhos, pois ali é apenas o prazer do jogo teatral. Para se concretizar o processo de presença artística, vamos para os monólogos. Não se faz isso porque a gente queira estar sozinho em cena. Faz-se isso porque esse é o teatro possível.

Qual seria essa marca do feminino no poder?

Fernanda - É um sentimento. Tem algo na mulher que é o seu olhar para as entranhas. O homem é um pau levantado para o horizonte. A mulher, não. Ela é incubada, obrigada a entrar em contato com o interior do seu sexo todo mês, tem esse ventre. Isso não quer dizer que vá ser mole, que a delicadeza não possa ser absolutamente poderosa.

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